Hoje, enquanto escrevo, meu bebê dorme. Agora não mais no colo. Mas por bastante tempo foi assim, ele preferia o aconchego dos meus braços à cama, e eu, mesmo exausta, não trocaria esse calor por nada. Faz pouco mais de um ano que me tornei mãe, e confesso: nunca fui tão feliz e tão perdida ao mesmo tempo. A maternidade é assim — um paradoxo ambulante, cheio de luzes e sombras que ninguém te conta direito antes do “parabéns, você está grávida!”.
O que ganhei:
Um amor que não cabe no peito. Sério, como descrever aquele sorriso de boquinha banguela que derrete até o dia mais cinza? Ou a primeira vez que ele disse “mamãe”, mesmo saindo “amaé”? São momentos que parecem congelar o tempo, como se o universo sussurrasse: “isso aqui é o que importa”. Descobri uma versão minha mais paciente (sim, eu que brigava com o Wi-Fi), mais criativa (quem sabia que dava pra inventar 15 versões de “Cadê o bebê?”) e mais grata — até pelo café frio que tomo em três goladas, porque agora é assim.
O que perdi:
Minha identidade, por um tempo. De repente, eu não era mais “eu”, que amava viajar e trilhas. Virei “mãe do Guto”. Os primeiros meses foram um luto silencioso pela liberdade, pelo corpo que mudou, pelas amizades que esfriaram. E não, não é drama: é real sentir saudade de quem você era, mesmo amando quem você se tornou.
O dilema da felicidade:
Aqui vem a parte que ninguém fala alto: dá pra ser profundamente feliz e profundamente triste no mesmo dia. Um exemplo? Quando o Guto deu os primeiros passos sozinho. Eu vibrei, gravei, chorei. À noite, uma amiga postou foto de uma viagem maravilhosa para chapada diamantina, e veio uma pontada de “e se?”. É como se meu coração estivesse dividido: metade pulsa de orgulho, metade chora pelo que deixou pra trás.
E quando a culpa aparece?
Ah, ela sempre aparece. Se saio para academia, penso: “deveria estar em casa”. Se fico em casa, penso: “deveria cuidar de mim”. Se trabalho, quero estar com ele; se estou com ele, lembro que preciso trabalhar. É um looping cansativo, mas aprendi que a culpa é só o medo disfarçado — medo de não ser suficiente. E sabe o que eu digo pra ela? “Vem cá, senta do lado, mas não atrapalha. A gente está fazendo o melhor que dá.”
Para você que me lê:
Se hoje você chorou no banheiro porque o bebê não para de gritar, ou se riu até a barriga doar com aquela gargalhada dele, saiba: você não está sozinha. A maternidade não é um mar de rosas, é uma floresta — tem flores, espinhos, tempestades e clareiras inesperadas. E está tudo bem em amar cada folha e, ao mesmo tempo, sentir falta do caminho que andava antes.
E agora, quero te perguntar:
Como você equilibra (ou tenta equilibrar) quem você é com quem a maternidade te fez ser? Já chorou de alegria e de saudade de si mesma no mesmo dia? Vamos trocar histórias aqui. Porque, no fim, é nas frestas dessas contradições que a gente se encontra — e descobre que não precisa escolher entre ser mãe e ser você. Pode ser os dois, mesmo que às vezes um pouco diferente.
P.S.: Se este texto ressoou em você, compartilhe com aquela amiga que também precisa saber que não está desmontando o quebra-cabeça sozinha.