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Puerpério e o Baby Blues: Um Relato Sincero com Dicas para Superar

Sou mãe de primeira viagem e, como muitas, idealizei a maternidade como um momento de plenitude. Mas a realidade foi diferente: o puerpério me surpreendeu com uma avalanche de emoções que nunca imaginei sentir. Hoje, com o coração cicatrizado e a mente mais clara, quero compartilhar minha experiência e dados científicos atualizados para ajudar outras mães a navegarem esse período com mais leveza e consciência.

“Por que estou triste se deveria estar feliz?”

Nos primeiros dias após o parto, fui invadida por uma tristeza inexplicável. Chorava ao ver uma propaganda na TV, sentia irritação com qualquer barulho e, principalmente, questionava minha capacidade de ser mãe. Descobri depois que isso tem nome: baby blues, uma condição que afeta até 80% das mulheres globalmente, com prevalência de 32,7% no Brasil. Apesar de não ser considerado uma doença, mas pode ser um sinal de alerta para a depressão pós-parto (DPP), que requer atenção e cuidados. Os sintomas — como choro fácil, ansiedade e insônia — são resultado de uma tempestade hormonal: a queda abrupta de estrogênio e progesterona após o parto, somada à exaustão física e emocional.

A Ciência por Trás das Lágrimas

O baby blues é uma resposta natural do corpo e da mente após o parto, influenciada por uma combinação de fatores biológicos, hormonais e emocionais. Vamos desvendar esse processo passo a passo:

1. A “Montanha-Russa Hormonal”

Após o parto, o corpo da mãe enfrenta uma queda abrupta nos níveis de hormônios que estavam altos durante a gravidez, como estrogênio e progesterona. Imagine que, durante meses, esses hormônios agiram como um “cobertor emocional”, ajudando a manter o equilíbrio. Quando eles despencam, o cérebro precisa se adaptar rapidamente, o que pode causar instabilidade de humor, semelhante à síndrome de abstinência.

Além disso, outros hormônios entram em cena:

  • Prolactina e ocitocina: Aumentam durante a apojadura (descida do leite, entre o 3º e 5º dia pós-parto). Esse pico hormonal coincide com o ápice dos sintomas do baby blues, como choro fácil e ansiedade.

2. O Papel dos Neurotransmissores

Os neurotransmissores são mensageiros químicos do cérebro que regulam emoções. No pós-parto, há alterações em:

  • Serotonina: Associada à sensação de bem-estar. A queda na disponibilidade de triptofano (um precursor da serotonina) pode levar à tristeza e apatia.
  • GABA: Responsável por acalmar o sistema nervoso. A redução na atividade desse neurotransmissor está ligada à ansiedade e irritabilidade.

Essas mudanças tornam o cérebro mais sensível a estímulos emocionais, como uma “tempestade química” passageira.

3. O Corpo em Modo “Alerta Máximo”

O parto é um evento fisicamente desgastante. O corpo da mãe está lidando com:

  • Fadiga extrema: A privação de sono e a recuperação do parto esgotam a energia, tornando mais difícil lidar com emoções.
  • Dor e desconforto: Seja por parto normal ou cesárea, o corpo precisa se recuperar, aumentando o estresse físico.

Esses fatores sobrecarregam o sistema nervoso, amplificando a sensação de descontrole emocional.

4. Adaptação do Cérebro à Maternidade

O cérebro da mãe passa por uma reorganização neural para se ajustar ao novo papel. Isso envolve:

  • Redução temporária de áreas ligadas à autopercepção: Para priorizar os cuidados com o bebê, o cérebro “desliga” parcialmente a atenção voltada para si mesma, o que pode gerar sentimentos de perda de identidade.
  • Ativação de circuitos de apego: Enquanto o corpo se adapta, a mãe pode sentir uma mistura de amor intenso pelo bebê e medo de não ser capaz de cuidar dele.

5. Fatores Externos que Intensificam o Processo 

  • Pressão social: A idealização da maternidade como um momento só de alegria cria culpa quando a realidade é diferente.
  • Falta de apoio prático: Cuidar de um recém-nascido sozinha aumenta a exaustão.
  • Mudanças na rotina: A adaptação à nova vida pode ser tão intensa quanto as mudanças hormonais.

Um dado que me trouxe alívio: 90% dos casos de baby blues desaparecem em até duas semanas, pois nesse período , os hormônios estabilizam gradualmente; o cérebro se adapta à nova rotina; a rede de apoio (família, amigos) ajuda a reduzir o estresse. Saber que era uma fase passageira me deu força para respirar fundo e seguir em frente.

Minhas Estratégias para Enfrentar o Baby Blues

  1. Permiti-me descansar sem culpa
    Dormir quando o bebê dormia foi essencial. A privação de sono é um gatilho poderoso para a irritabilidade. Deleguei tarefas domésticas ao meu parceiro e familiares — lavar louça ou fazer compras pode (e deve!) ser responsabilidade de outros.
  2. Criei uma rede de apoio emocional
    Conversar com outras mães que passaram pelo mesmo me fez perceber que não estava sozinha. Grupos online e terapias breves foram aliados. Inclusive,  psicólogos destacam que 20% das mães desenvolvem depressão pós-parto, mas apenas metade é diagnosticada. Fique atenta: se a tristeza persistir após 15 dias, busque ajuda profissional.
  3. Reduzi as visitas no início
    O excesso de palpites e a cobrança para “estar sempre radiante” aumentavam minha ansiedade. Segui a dica de limitar visitas nas primeiras semanas — priorizei quem realmente me ajudava, não quem só queria ver o bebê.
  4. Incluí pequenos rituais de autocuidado

Um banho quente, uma xícara de chá em silêncio ou uma música que me acalmava. Esses momentos me lembravam que, além de mãe, eu ainda era eu mesma.

  • Pratiquei caminhadas curtas

Um estudo recente mostrou que mais de uma hora de atividade moderada por semana pode reduzir significativamente os sintomas do baby blues e diminuir o risco de desenvolver uma depressão maior em até 45%. Eu comecei com caminhadas curtas com o meu bebê no sling, o que não só ajudou a melhorar meu humor, mas também me permitiu criar um momento especial de conexão com ele.

  1. Aceitei que a maternidade real não é a das redes sociais
    A pressão para amamentar perfeitamente ou ter a casa impecável era sufocante. Um estudo de 2024 mostrou que mães que recebem apoio prático na amamentação têm menor intensidade de baby blues. Permiti-me errar e pedir ajuda — e isso não me fez menos capaz.

Quando Procurar Ajuda?

Fiquei alerta aos sinais: se a tristeza viesse acompanhada de pensamentos de desesperança ou dificuldade extrema de cuidar do bebê, seria hora de buscar um psicólogo ou psiquiatra. Felizmente, com apoio, meus sintomas amenizaram após 10 dias.

Um Recado Final

Querida mãe, você não está quebrada. O baby blues é um fenômeno biológico e social, não uma falha sua. Hoje, olhando para trás, vejo que o baby blues me ensinou a ser mais gentil comigo mesma, a reconhecer que momentos de fragilidade fazem parte do processo de se tornar mãe. Minha mensagem para você, que está enfrentando essa fase delicada, é: dê tempo ao seu corpo e à sua mente para se adaptarem, celebre as pequenas vitórias e, acima de tudo, não se cobre tanto. Você merece cuidado, apoio e muita compreensão.

“Quando um bebê nasce, uma mãe também nasce. Cada um em sua instabilidade” — e está tudo bem assim.

Referências Bibliográficas:

  1. CALDEIRA, Eni Maria Magalhães et al. ALTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS NO PUERPÉRIO (BABY BLUES, DEPRESSÃO PÓS-PARTO E PSICOSE PUERPERAL). Brazilian Journal of Health and Innovation, v. 12, n. 3, p. 1-15, 2024. Disponível em: https://bjihs.emnuvens.com.br/bjihs/article/view/2407.
  2. SERRA, Fabiano. Blues Puerperal, Psicose Puerperal e Depressão Pós-Parto: Diferenças, Diagnóstico e Tratamento. Afya, 2024. Disponível em: https://papers.afya.com.br/blog/blues-puerperal-psicose-puerperal-e-depressao-pos-parto-diferencas-diagnostico-e-tratamento.
  3. SANTOS, Morhana Camapum dos et al. FATORES ASSOCIADOS AO BABY BLUES E DEPRESSÃO PUERPERAL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA. Editora Científica, 2023. Disponível em: https://www.editoracientifica.com.br/artigos/fatores-associados-ao-baby-blues-e-depressao-puerperal-uma-revisao-integrativa.
  4. SOU MÃE: E AGORA? VIVÊNCIAS DO PUERPÉRIO. SciELO Brasil, 2024. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pusp/a/gRDZZ9sPmPNXKBBJnRtrxkQ/.
  5. SOLMAZ GHANBARI-HOMAIE et al. Association between epidural analgesia and postpartum psychiatric disorders: A meta-analysis. Heliyon, v. 10, n. 6, p. e27717, 2024. Disponível em: https://bjihs.emnuvens.com.br/bjihs/article/view/2407.
  6. MORE THAN AN HOUR OF EXERCISE A WEEK MAY HELP WITH “BABY BLUES”, SAYS STUDY. The Guardian, 7 nov. 2024. Disponível em: https://www.theguardian.com/society/2024/nov/07/more-than-an-hour-of-exercise-a-week-may-help-with-baby-blues-says-study.

Stela Silva

Mãe & Blogger

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